Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada
Minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver
Quem dera pudesse todo homem compreender
Oh! mãe quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser
Quem sabe
O superhomem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher
Quem sabe
O superhomem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher
Comentário:
Um "super" homem nada tem de comum: não é um homem. É um superhomem... dando passagem para um devir mulher, para um devir sensibilidades atípicas.
Aqui a "porção mulher" não é "uma parte do homem", um novo "pedaço da sua identidade masculina" que se relaciona com o resto da sua identidade masculina, senão que é um acoplamento, uma linha de fuga, uma maneira não instituída e não identitária de ser um Outro ser masculino...
...um outro igual e diferente de si próprio, porque a "porção mulher que até então se resguardara... não estava "reprimida" no porão do inconsciente, mas estava sem canal de passagem: os atos estavam indizíveis e inomináveis para o dito mundo masculino!
Esse superhomem nada tem de homem, de comum... ele é muito mais semelhante a um deus...que cria novas maneiras de existir!
"Oh mãe quem dera"... sinaliza a própria passagem das estações como sendo um recurso feminino de mudança... uma deusa acoplada a um deus de ação.
E só por ela ser...
Que lindo!
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