17 novembro, 2008

Sentimento de culpa



Sentimento de culpa
É absurdamente maravilhoso viver sem se sentir fisgado, controlado e capturado pelo corrosivo sentimento de culpa. Alcançar esse estado de espírito, no entanto, não é uma conseqüência "natural" da nossa evolução. É preciso trabalhar em si (e COM os outros), arduamente, para se livrar dessa prisão.
Se faz necessário ir desmanchando, dentro de si, todos os mecanismos sociais culpabilizadores vindos pela religião e pela família, enquanto instituições. A culpa implica submissão e evitação do conflito: não combina com o questionamento dos papéis sociais instituídos e com a liberdade de expressão!
As instituições não estão somente Fora de nós; estão dentro. Nós Somos as instituições!

Romper com este estado de coisas no cotidiano é uma maneira de exorcizar a culpa que nos é imputada e solidificada por nós na tentativa de Voltar a um equilíbrio já desequilibrado.Viva sem culpa: trabalhe-se e exercite essa possibilidade. Fazer isso nada tem a ver com egoísmo, mas tem a ver com amor próprio... e com as mudanças que vamos instituindo e conquistando na nossa vida.

Freud já falava em "Mal estar na civilização" do papel alienante da Religião: essa perspectiva clássica e psicanalítica, elucidou o poder que ela possui sobre a sexualiadade e sobre os comportamentos sociais.
Assim, sentir-se culpado pela ação dos "instintos" e impulsos de vida (sexualidade) e pelos "instintos" e impulsos de morte (raiva, por exemplo) é uma maneira de manter ambos os impulsos sob controle e garantir uma homeostase social que evite a barbárie. Perfeito: Freud explica... e bem!

Numa perspectiva outra, deleuziana, concebemos que os homens criam instituições. A junção destas instituições, como a família, a religião, a educação e o trabalho formam uma rede de controle social que garante o cumprimento Das Ordens. A culpa, neste sistema, detém um papel essencial e fundamental, já que garante que o Proibido seja passível de punição. Pelo pai, pelo papa, por Deus, pelo professor, pelo patrão.
Temer o erro e culpar-se pela trangressão é muito instrumental para garantir que as coisas continuem como estão.

Se faz importante, portanto, ver onde e COMO as instituições atuam em nós.

A religião é a instituição que Organiza a Prática espiritual, definindo o prescrito e o proscrito, o certo e o errado, o moral e o imoral... através de ritos e mitos. Na tradição judaico-cristã isso é feito mediante a associação entre pecado-erro e culpa, com a possibilidade de absolvição (sempre pelo outro). Assim vai se garantindo comportamentos sociais esperados e repetidos; modeliza-se as formas de viver a espiritualidade. Ora, nestes termos e assim colocado... pouco espaço sobra para o exercício de outras maneiras de viver e se relacionar com o divino, consigo próprio e com o outro!

Então estamos irremediavelmente atados e presos? Não!

Podemos inventar, criar, maneiras e formas completamente novas e singulares de viver nossa própria vida, valorizando e exercitando nosso desejo de vida, potência sempre fundante e potencializadora de mudanças intra, infra, inter e trans psíquica e social.

Como?
Sendo cada caminho único e singular... não há formas e trajetos pré-definidos, nem sequer Uma maneira básica. Pode-se dizer, apesar disso, que algo já está cartografado: é preciso romper com os papéis sociais institucionalizados; é necessário experimentar um certo nomadismo; é importante trabalhar a si próprio na relação com o outro e com os mitos e ritos (nada está só no intrapsíquico; tudo está em relação, estabelecendo comunicações complexas e em rede; interligado); é decisivo dar passagem para acontecimentos e encontros, oportunidades, no e do tempo presente.

Temos muito o que fazer... o que está pronto... não nos serve mais, pelo menos... não completamente.

Conseguir "não sentir-se culpado" abre espaço para muitas e outras maneiras e formas de viver a vida.

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